CD Momentos em Paris

Música Francesa para Flauta e Piano

 
Por vários séculos, Paris tem sido um dos mais importantes centros culturais do mundo ocidental, abrigando grandes artistas, entre eles, músicos e compositores famosos. Isto pode ser observado através das obras para flauta e piano apresentadas pelo Duo Barrenechea nesse álbum, onde é possível percorrer alguns dos gêneros e estilos explorados por Debussy, Leclair, Saint-Saëns, Fauré, Caplet e Godard na Cité Lumière.

 
 

Momentos Parisienses

Claude Debussy (1862-1918), considerado um dos maiores compositores da música ocidental, concebeu, em 1894, talvez o mais famoso exemplo do impressionismo musical, Prélude à l´après-midi d´un faune, um marco do estilo orquestral deste compositor. O prelúdio é uma ilustração livre de um poema de Stéphane Mallarmé, utilizado pelo coreográfo e bailarino russo Vaslav Nijinsky, num polêmico ballet apresentado em Paris, em 1912. A obra apresenta métrica flutuante e vaga, timbres orquestrais exóticos e centros tonais ambíguos. Gustave Samazeuilh, em sua redução para flauta e piano, feita em 1925, consegue reter o tratamento tímbrico, a textura e o caráter da versão original, criando um bom equilíbrio entre os dois instrumentos, além de distribuir com justeza o material temático, evitando que o piano assuma um mero papel de acompanhador.
Gabriel Fauré (1845-1924), um dos grandes nomes da música francesa, estudou em Paris na École Niedermeyer. Foi aluno de Saint-Saëns, tornando-se famoso principalmente por suas obras para piano, canções e música de câmara. A Fantaisie Op. 79, dedicada à Paul Taffanel, foi escrita como uma peça de concurso do Conservatório de Paris. Com uma estrutura biseccionada, oferece ao flautista a chance de explorar aspectos técnicos e expressivos do instrumento, em momentos contrastantes de lirismo e virtuosismo, e ao pianista uma escrita refinadamente idiomática.
 
 
Jean-Marie Leclair (1697-1764) ocupa um lugar importante no desenvolvimento da música para violino na França. A escrita de Leclair reflete a fusão do estilo barroco italiano e francês numa nova síntese, o goûts-reunis. Ele é conhecido por sua música para violino, particularmente pelas quatro coleções de sonatas, doze em cada publicação. Entretanto, nove de suas 48 sonatas para violino indicam pelo título, qui peut jouer sur la flute allemande, que poderiam ser executadas na flauta. Isso se deve à popularidade que o instrumento alcançou entre profissionais e amadores da época. Há um outro possível motivo para essa indicação de Leclair, a influência do célebre flautista virtuoso Michel Blavet (1700-1768) na cena musical parisiense. Eles se apresentaram juntos freqüentemente nos Concers Spirituel, entre 1731 e 1735, e parece provável que Leclair tenha escrito essas sonatas inspirado em Blavet. A Sonata em Sol maior, op. 9, nº 7, dedicada à Princesa Anne D’Orange, e publicada em 1743, faz parte de seu Quatrième Livre de Sonates. Três dos quatro movimentos são verdadeiramente de estilo rococó, e somente a Aria, um doublé rondeau típico, é reminiscente do estilo barroco francês de Rameau.
 
Camille Saint-Saëns (1835-1921) foi um compositor que demonstrou precocidade musical como pianista e compositor. Estudou no Conservatório de Paris e tornou-se também um grande organista, atuando na Igreja de Madeleine, em Paris, por quase vinte anos. Foi professor de compositores famosos na École Niedemeyer, dentre eles Fauré e Duparc. Como compositor, apresenta um estilo polido, elegante e apegado à tradição formal clássica. Romance Op. 37, originalmente escrita para flauta e orquestra, é uma obra simples, expressiva e bem estruturada, com um tema que, após ser desenvolvido numa seção marcada por trechos de escalas, saltos e momentos declamatórios, retorna à atmosfera lírica do início.
 
 
André Caplet (1878-1925), compositor e regente francês, se tornou mais conhecido por orquestrações de obras de Debussy – de quem era grande amigo – do que por suas próprias composições. Caplet foi regente da Boston Opera entre 1910 e 1914. Ao lutar na Primeira Guerra Mundial, foi intoxicado com gases letais do exército alemão, o que o levou a uma morte prematura aos 47 anos. Seu estilo composicional reflete, de maneira marcante, a estética impressionista e a influência da música de Debussy. Suas obras mais significativas incluem a cantata Myrrha, ganhadora do Prix de Rome em 1910, canções, obras corais sacras e música de câmara, dentre elas Rêverie et Petite Valse para flauta e piano. Esta obra, composta de duas peças curtas, revela sua habilidade em explorar texturas elaboradas, nas quais os dois instrumentos dialogam em um contraponto sofisticado, e também seu domínio ao lidar com diferentes timbres, dando tratamento orquestral ao som da flauta e do piano.
 
Louis Paul Benjamin Godard (1849-1895), nascido em Paris, estudou violino com Henri Vieuxtemps e composição com Henri Reber Conservatório da capital francesa. Embora tenha sido considerado um gênio promissor em sua juventude, não se tornou um compositor de grande destaque na cena parisiense. Ainda assim, foi premiado em 1878 por sua sinfonia Le tasso. Sua Suite de Trois Morceaux é uma obra escrita para um amigo, o grande flautista Paul Taffanel. A suíte apresenta um plano composicional elaborado, antecipando muitos aspectos do estilo de música de salão de Poulenc: Allegretto, fortemente delineado por melodia com acompanhamento simples, revela uma textura equilibrada entre flauta e piano; Idylle traz um lirismo em suas frases, realçado pelas mudanças sutis de dinâmica e modulações inesperadas; Valse, uma peça brilhante e virtuosística, principalmente para a flauta, apresenta deslocamentos rítmicos de grande efeito, assim como coloridos harmônicos interessantes.
 
Repertório do CD
Claude Debussy (1862-1918)
Prélude à l’après-midi d´un faune (1894)
Gabriel Fauré (1845 - 1924)
Fantaisie, Op. 79 (1898)
Camille Saint-Saëns (1835 - 1921)
Romance, Op. 37 (1871)
Jean-Marie Leclair (1697-1764)
Sonata em Sol maior, Op. 9 nº.7 (circa 1743)
Andre Caplet (1878 - 1925)
Rêverie et Petite Valse (1905)
Benjamin Godard (1849 - 1895)
Suite de morceaux, Op. 116 (1889)
 
Duo Barrenechea
Sérgio Barrenechea, flauta / Lúcia Barrenechea, piano

 
 

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